quinta-feira, 10 de março de 2011

Ele ainda voltará

Por Lucas Bueno


Todo começo de semana, exceto para os jornalistas é claro, volta-se ao trabalho com um passo relativamente mais lento devido a tranquilidade natural do descanso pós fim de semana. Mas aquela segunda-feira foi única. Ronaldo, o Fenomêno, iria se aposentar. A redação com seus mais de vinte televisores, sintonizados no mesmo canal, se dividiu em nichos, os corinthianos fanáticos, os torcedores do Ronaldo, os curiosos, os de passagem, os chorões. Foi duro ver o craque surgir no monitor e dizer que estava encerrando sua carreira porque seu corpo não aguentava mais.

No decorrer do adeus, se ouvia apenas os batimentos cardíacos acelerados dos aficionados, tum-tum, tum-tum, tum-tum, seguidos sucessivamente por profundo suspiros de agonia.
Ao final do discurso, todo aquele silêncio e emoção foram esquecidos, a racionalidade e objetividade às vezes chata do jornalismo voltaram com toda força. Gritos soavam: liguem para o pai de Ronaldo, vamos tentar falar com o Fenômeno, cadê o primeiro técnico dele em Bento Ribeiro? Como ainda não participo frequentemente dessa correria do jornal diário, pude sentar no meu canto, em frente ao computador e pensar sobre uma frase dita por Falcão, ex-volante da seleção brasileira, e repetida por R9 em seu discurso de despedida.

“O jogador de futebol morre duas vezes, uma quando encerra sua carreira e a outra pela lei natural da vida.”.

Não que eu seja negativista ou que viva em uma crise existencial, mas a palavra morte ficou batucando em minha cabeça. Não conseguia, era inviável associar Ronaldo com o apagar das luzes. O maior artilheiro já existente em Copas do Mundo, capaz de proporcionar aos brasileiros uma alegria ingênua e confortante não podia parar. Os meros mortais morrem, as lendas se eternizam.

O povo se identifica com Ronaldo, uma vida dos sonhos. Não. Acredito que seja mesmo de um belo enredo dos tempos áureos dos folhetins das oito. Sucesso, fama, dinheiro, drama, mulheres, reviravoltas, vícios, filhos extraconjugais, escapadas noturnas, todos em uma trama só. Isso sim é sucesso!


Já nos seus últimos esforços como profissional, o agora “Gorducho” voltou a atuar nos certames brasileiros. Bastou apenas seis meses para Ele nos mostrar a essência mais pura do futebol tupiniquim. Diferentemente, é claro, daquele futebol característico apresentado na Espanha e que lhe rendeu o apelido de El Fenómeno, aliando velocidade, habilidade e explosão. Aqui a surpresa era diferenciada e exclusiva.

E foi ali, logo na estreia de Ronaldo pelo Corinthians, em um jogo contra o rival histórico que a Fênix ressurgia mais forte. Instantes finais de clássico, bola cruzada na área e a redonda encontra o redondo para empurrá-la carinhosamente para o fundo do barbante, como sempre fez. Explosão no estádio. Só de pensar arrepia, e olha que não sou nenhum corinthiano. Esqueça o gol, isso é questão de vaidade como diria um amigo meu. O que se eternizou foi a comemoração do jogador, creio a mais espontânea já feita em toda sua carreira. Sem saber o que fazer, Ele correu pulou na grade do estádio e ficaram ali, ídolo e torcedor no mesmo patamar de importância, trocando sorrisos e olhares empolgados na mesma sintonia. 

Com a empolgação e o excesso de pessoas o alambrado cedeu. Quem se importa. O cara voltou. Era o Messias voltando à terra prometida para nos salvar da mesmice que esse futebol tão rico se transformou. Ele fez todos os brasileiros voltarem a serem crianças, sem perder a esperança.

Voltando do insight momentâneo e do patriotismo um pouco fora de controle, ouço da televisão que o adeus era um até breve. Haverá dois jogos de despedida para o R9, um pela seleção canarinho e outro pelo bando de loucos. No fundo sabia que Ronaldo não abandonaria o povo com um gostinho de quero mais. Ainda existirão mais espetáculos. A alegria retornará. Volto para o trabalho e me deparo cantarolando uma música, e como escreveu o compositor, “Não me intimido parto pra cima e só me contento quando ouvir a galera entoando esse canto, Goool! Sou Ronaldo!”.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Gold Coast verde e amarela!


Por Rafael Regis

Quase meia-noite no Brasil e do outro lado do mundo uma das promessas do surfe nacional carrega nossa bandeira enquanto levanta o troféu do Hurley Pro Junior 2011.
De virada, em uma final disputada e de ondas não tão boas, Peterson Crisanto derrotou o local da Gold Coast, Thomas Woods. O crowd que assistia a bateria em Burleigh Heads, e que torcia pelo conterrâneo Woods, demonstrou esportividade e recebeu calorosamente o brasuca na saída da água.

Atitude totalmente contrária demonstrou Mick Fanning. O bi-campeão mundial de surfe que comentava a final pela transmissão ao vivo do site da Hurley não escondeu a frustração de ver Woods ser derrotado para um brasileiro em casa. Mesmo em baixo-astral, Fanning teve de se render e elogiar o alto nível de surfe apresentado por Crisanto ao longo de toda a competição.

Ventava muito em Burleigh Heads quando Peterson Crisanto e Thomas Woods caíram na água. A correnteza forte e as séria demoradas indicavam que os surfistas deveriam aproveitar bem as ondas que viessem. Thomas Woods começou melhor e, com pouco mais de 9 pontos, liderou a bateria por um bom tempo. E quando t udo parecia já definido, Crisanto dropou uma direita e já emendou uma bela manobra com um layback estiloso. Bastante potência e muita água no ar, mas a onda parecia ter chegado ao fim. Que nada! Crisanto segurou, acelerou e foi manobrando, do jeito que dava, até o inside. No final ainda achou um 360 que completou com perfeição.

A nota demorou a sair, mas a voz falha de Mick Fanning não deixou dúvidas de que Peterson Crisanto havia assumido a liderança. Ele saiu pela areia e correu para as pedras, crente de que Woods responderia logo em seguida. Nada disso. O tempo se esgotou e Crisanto pôde comemorar a vitória do Hurley Pro Junior 2011. No pódio, dedicou a vitória à família e aos amigos da Gold Coast, local onde provavelmente ainda ganhará muitos títulos.